Em dia que não se sabe quando. O mar revolto, embrulhado em mantas de retalhos de vidas ceifadas, aproximou-se da costa.
Das areias brancas imaculadas, salteada de pequenas conchas de formas jamais vistas. Trazia na sua espuma um novo ser.
Eu. A tua Vénus.
Nascida da alva espuma do mar fecundada pelo Céu. Recolhida e protegida numa concha de madrepérola que me aproximou do teu ser.
Não sabia naquela altura, como não o sei agora, o que me aproximou de Marte. Vermelho de fogo/paixão.
Quente. Amei-o. De corpo e desejo. Paixão alucinada revestida de tantos corpos incendiados de todas as chamas do Universo.
E amei. A ti.
Roubaste-me o coração, alma, corpo, vida.
Oh, Céus, como te amei, Adónis.Por ti, abandonei o Olimpo, esqueci deuses, esqueci quem era.
Voei na tua direcção, entrelaçámos as mãos e abraçámo-nos na busca do nosso Universo.
Aquele que ficava para além de nós e do mundo. Acima dos deuses e suas convenções.
Fomos corpos enrolados nas nuvens. Perdidos num tempo sem tempo. Num espaço vazio de tudo e cheio de nós.
Foste mãos que me percorreram cabelos, rosto, seios, pernas.
Foste chama que me penetrou e me deixou prostrada. Em doce letargia. Força que me derrubou do Olimpo e me amparou nos seus braços.
Fui pele, suor e sangue. Que te invadiu e te fez meu.
Corri em ti. Em mim.
Corpos unidos num só.
Fui boca, língua, desejos de um ser e não ser.
Até um dia.Perdi-te no abismo do ciúme.
Às mãos de Marte.
Hoje, procuro-te nas ondas do mar. Busco-te nas profundezas de oceanos. Sorrio-te nas manhãs de sol.Envio-te beijos pelas estrelas.Abraço a lua na esperança que ela me leve a ti.Peço aos rios que te saciem a sede.Sussurro ao vento que não te deixe esquecer o meu rosto.
Beijo a imagem de ti.
Boca. Corpo.
Eu, Vénus. Tu, Adónis.
Nós, Amor.